quinta-feira, 14 de junho de 2018

BDSM e Preconceito

Wilma Azevedo já escrevia, no início dos anos 1980, que o preconceito contra o sadomasoquismo era enorme, principalmente por causa da nossa herança de torturas no período da ditadura militar. Assim, qualquer coisa que fosse visto como tortura era mal-visto. Hoje muita coisa mudou. Já não se fala mais sadomasoquismo, mas BDSM, siglas como SSC (são, seguro, consensual) se popularizaram, assim como outras práticas, como o bondage e o petplay. Só o que não mudou foi o preconceito. Os praticantes continuam sendo muito mal-vistos pela sociedade. Hoje os praticantes ainda vivem uma situação parecida com a dos homossexuais há 20-30 anos: escondem suas preferências e temem serem descobertos por amigos e parentes.

No caso das mulheres, nos últimos anos elas foram convencidas de que a submissão é algo negativo. A nova mulher é uma guerreira, forte, chefa de família. Não é mais aceitável que uma mulher precise da proteção de um homem ou que obedeça às ordens de um homem. Mas muitas mulheres precisam disso, anseiam por isso. Mulheres muitas vezes em altos cargos que têm essa necessidade. O conflito gerado aí tem lotado os consultórios dos psicólogos, especialmente depois dos 50 tons. Claro que boa parte do problema está no fato da sociedade não separar a mulher entre quatro paredes da mulher profissional. Então, a mulher que se diz submissa sofre grande preconceito da sociedade.

Por outro lado, o homem dominador é visto como um abusador. Muitas pessoas ainda confundem BDSM com violência doméstica, o que é um absurdo, já que a situação é completamente diversa. Já conheci mulheres masoquistas, que só tinham orgasmos apanhando, mas separaram de maridos baunilha que batiam nelas. O tapa pode ser igual, mas a intenção e a consensualidade fazem toda a diferença, sem falar da preocupação do Dom com a segurança da sub, que o marido abusador simplesmente não tem. Mas para a sociedade, um homem que se assume dominador ainda é visto como um praticante de violência doméstica. Isso vale inclusive do ponto de vista jurídico.

Ironicamente, o homem que assume o papel de submisso também sofre grande preconceito. Em nossa sociedade machista, o ideal do homem é o homem másculo, provedor da casa. Os homens submissos costumam ser objeto de práticas como feminização forçada, introdução de consolos, cuckold (em que o submisso oferece sua esposa-rainha para outros homens, servindo os dois etc) e cinto de castidade. Imaginem um homem, pai de família, funcionário exemplar, admitindo em público que à noite se veste de empregadinha para agradar a mulher e o amante dela? Impensável, não? Por outro lado, que esposa teria coragem de contar que faz isso com o marido senão para pessoas do meio? Ou seja: submisso e sua dona também acabam sendo viítimas de grande preconceito.

Quando a relação envolve homossexualidade (homens dominadores e seus submissos ou rainhas e suas escravas) sofrem os mesmos preconceitos acima, acrescidos do preconceito contra homossexuais.

Isso explica porque a maioria das pessoas do meio acaba utilizando identidades fakes nas redes sociais. Não é à toa que máscara se tornou um símbolo do BDSM.

Autoria: Crônicas do Mestre Sade
https://www.facebook.com/cronicasmestresade/

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