quinta-feira, 22 de junho de 2017

BDSM ainda virtual


Não me surpreende, nem muito menos condeno o grande número de adeptos ainda virtuais do BDSM. Muito pelo contrário. E explico meu ponto de vista:

Inicialmente devemos expurgar das estatísticas e de minhas explanações alguns “aliens”, mais comuns em fins de semana, como os que erram a porta das salas de antropofagia e zoofilia e adentram nos chats de BDSM com a esperança de “comerem uma gatinha”.

Também. desconsideremos aqueles que buscam e se agradam especificamente e somente do chamado “sexo virtual” (não confundir com “virtual”, que abrange também conversas, amizades, pesquisas, etc... e faz parte de nossos contatos na net para conhecimento e aprimoramento do BDSM). Nada contra o sexo virtual, mas quem o objetiva exclusivamente (e não como parte/complemento de uma relação BDSM) está buscando somente um prazer solitário à distância e não uma prática BDSM. Ao menos que seja possível um Bondage com o fio do mouse e um teclado que dê choque. *RRR

Sarcasmo à parte, sobraria na estatística ainda um grande número de pessoas “somente ou primordialmente” virtuais. Não no sentido de objetivar exclusivamente a prática de sexo virtual citado acima, mas aquelas que – praticando-o ou não - conversam sobre o assunto, fazem amizades e tentam descobrir mais sobre o universo BDSM, mas que, por motivos variados, não tem a pretensão ou ainda não conseguiram passar para o real.

Os motivos são diversos: Desde a fidelidade com o parceiro baunilha até a comum prática de se vender uma imagem virtual totalmente dispare da real, impossibilitando uma apresentação pessoal.

Mas há um motivo importante e compreensível para a manutenção de tantas pessoas ainda no virtual: “RESPONSABILIDADE”.

Sim, responsabilidade. Muitas pessoas que hj freqüentam os chats e os meios BDSM acabaram de descobrir este universo, ou quando muito, hj. sabem onde procurar dados, conhecimento e pessoas que tenham as mesmas afinidades que antes julgavam exclusivas, vergonhosas, solitárias ou excluídas do universo real.

Existe até quem descobriu a existência do BDSM nos chats e imagina(va) que ele só existia no virtual. Tem mesmo ! Mais de uma vez já ouvi uma pergunta espantada: “Vcs. fazem essas coisas de verdade mesmo ?????” *RRR

Mas mesmo estas pessoas estão hj. descobrindo este universo ou dele se aprofundando mais. Por isso, por uma questão de RESPONSABILIDADE, é natural e louvável que elas antes de mais nada descubram se suas fantasias povoavam somente seus sonhos noturnos ou se são um dom que necessita (eu disse necessita !) ser praticado.

Assim, é através do “virtual” (conversas, pesquisas, ensinamentos, trocas de idéias, etc) que estas pessoas (possíveis novos BDSM reais em potencial) podem se descobrir e a seus dons, seus estilos, gostos, limites, anseios, desejos e aquilo que realmente querem para si e o que pode se aplicar a seu ser real. Ou então, descobrem que o BDSM era apenas uma fantasia a ser descartada ou não vale a pena (pq não ? Baunilhas convictos existem sim, e nada demais que eles tenham um deslize de sonharem poder ser fetichistas, constatando em seguida tratar-se apenas de um devaneio). Ou mesmo – o que tem sido comum – descobrem que os praticantes desta fantasia que lotam as salas de chat são pessoas com uma maturidade um pouco acima da média das demais salas de “sexo” e ali começam a surgir e se travar boas amizades (independentes do BDSM), sejam apenas virtuais ou que passam tb para o real. E assim estas pessoas, mesmo alheias à idéia de se tornarem BDSM reais, permanecem nos chats por conta do grupo de amigos que formaram, até mesmo participando de eventos BDSM . Conheço muitos freqüentadores de chats que nunca tiverem e nem pretendem ter uma sessão, mas já foram a encontros BDSM e a bares temáticos ver “os amigos”.

Enfim, também é no virtual que aqueles que já se conheciam BDSM e já haviam até mesmo praticado-o, podem conhecer outros adeptos, trocar idéias, aprender mais, evoluir e, claro, angariar parceiros. E neste ponto, os chats foram um marco para o BDSM. Quem o praticava antes da internet se lembra das grandes dificuldades em se encontrar uma cara metade.

Mas voltando à responsabilidade, passada esta etapa de auto-conhecimento, quando estes novos adeptos ainda virtuais se assumem BDSM, teríamos então mais uma fase de “aprendizado”, onde os novatos irão se conhecer, evoluir técnicas, definir seus limites, anseios, etc... E finalmente, a tarefa – pasme-se – ainda a mais difícil: encontrar o parceiro.

Quem vê o grande numero de freqüentadores de chats de BDSM e o numero de títulos honoríficos que povoam a lista de nicks imagina que encontrar um Mestre, um Lord, um Mentor, um Dono, ou uma escrava, uma cadela, uma serva, uma submissa, etc, é uma tarefa que pode se desenrolar em poucas linhas de conversa no meio daquela multidão de adeptos assumidos, experientes, sedutores e atraentes da lista de nicks... Ledo engano.

Tirando uma maioria esmagadora que sabe tanto quanto nada, e o pior, a grande massa de “desonestos” (clique aqui para a definição), sobram pouquíssimos verdadeiros Mestres e verdadeiras escravas.

Assim, quando falo em Responsabilidade, falo que encontrar um Mestre ou uma escrava não é como uma paquera de boate, onde de um beijo, um sarro e uma química, vemos o nascer do sol numa suíte de motel perguntando o nome do parceiro. Para o BDSM é necessário bem mais que simplesmente atração e desejo. É preciso confiança, segurança, responsabilidade, maturidade entrosamento, cumplicidade, compatibilidade de estilos e muito, muuito cuidado para não se cair nas mãos erradas (falo dos Mestres tb. Pois não é impossível a algum deles acabar numa delegacia de mulheres ou ameaçado/chantageado se escolher afoitamente uma escrava errada). Ao contrário daquele casal que sai do Motel de manhã e que, caso a camisinha não tenha estourado, não hão de ter maiores conseqüências para seus atos, o BDSM pode trazer seqüelas psicológicas e até físicas e sociais se praticado com pessoas curiosas ou inescrupulosas ou da forma errada.

Assim, se já não bastasse a longa jornada da descoberta do BDSM e do auto-conhecimento, chegando à descoberta do próprio estilo e anseios, além da eterna evolução no BDSM, mesmo após já ter certeza de que se busca o real, a dificuldade em se encontrar um parceiro confiável e compatível faz com que muitas pessoas coerentemente permaneçam ainda no virtual. E digo coerentemente, porque é melhor o exercício da paciência e a resignação a uma ato de joeirar que pode levar meses ou anos que acabar numa malfadada (e traumatizante) experiência com uma pessoa escolhida afoita e erroneamente.

Mas não me interpretem mal. Mais condenável ainda são aqueles que se assumiram, encontraram seu parceiro e mesmo assim ainda se mantêm inexplicavelmente indecisos ou receosos (mas reconheçamos, eles são uma minoria).

Porém, torno a lembrar que o meio virtual BDSM ainda é novo. E muuitas pessoas já se descobriram e passaram para o real nele e evoluem a cada dia. Conheço ex-mestrelhecos virtuais debochados que hj. São verdadeiros Mestres reais sérios e também ex-baunilhonas que hj. São grandes escravas. Assim, acredito que quanto mais verdadeiros BDSM existirem e povoarem este universo (e este numero cresce a cada dia), mais rápida poderá se tornar esta passagem do virtual para o real (pela existência de um numero maior de opções de parceiros confiáveis) e assim, permanecerão no virtual apenas aqueles aliens e aquelas pessoas que tenham um verdadeiro impedimento para a prática do real. Porém, repito que é melhor um numero grande de adeptos ainda virtuais, que um contingente de pessoas decepcionadas que se afastam do BDSM por terem se traumatizado com uma malfadada experiência real feita às pressas, sem convicção e auto conhecimento, e/ou com uma pessoa mal escolhida.

É a minha opinião.

Jot@SM

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